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24 de jun. de 2012

Por que procurar uma Psicopedagoga? Para quê é indicada? Quem é a pessoa e como avalia o problema? Como é o tratamento? E quanto ao diagnóstico de Dislexia, TDAH e/ou outros distúrbios?

Estas são algumas das muitas perguntas que me chegam. As dúvidas são muitas e, normalmente, informações equivocadas estão sendo passadas para pais, professores e para adultos que enfrentam dificuldades no seu processo de aprender.
Diante disto, tentarei aqui responder algumas destas questões.
P. O meu filho demora um pouco para ler e em entender as matérias. Por que a escola me orientou a procurar uma Psicopedagoga?
N. Como a Psicopedagogia se debruça especificamente sobre as questões afins à cogniçãoato de conhecer ou de captar, integrar, elaborar e exprimir informação- e afetividade, que estão diretamente ligadas à maneira como as pessoas aprendem, ela investiga quais são os fatores que estão interferindo na aprendizagem e trata as dificuldades que o aprendente está enfrentando.
Possivelmente a professora ou o professor identificou em seu filho a necessidade de um olhar diferenciado para o processo de aprendizagem dele.
Geralmente as dificuldades encontradas pelas pessoas, que estão em eterno processo de aprendizagem, são de ordens pedagógica, afetiva e/ou orgânica. 
A maioria das crianças e adolescentes atendidos no consultório é encaminhada por educadores que  identificaram as dificuldades de aprendizagem de seus alunos.
A desmotivação, a desatenção, as dificuldades com a memória, a agitação constante, a leitura lenta, a compreensão do conteúdo lido muito comprometida, a dificuldade com a matemática, dentre outras matérias, o “branco” na hora de realizar as provas e a preguiça  são alguns dos sintomas apresentados pelos alunos, que motivam os educadores encaminhá-los para uma avaliação e tratamento psicopedagógico.
P. Para quê é indicada?
N.  A Psicopedagogia é indicada quando uma pessoa estiver enfrentando problemas na aprendizagem, inclusive no trabalho.
Além das crianças e adolescentes com problemas na escola, adultos que apresentam dificuldades tanto nas atividades da vida diária como no desempenho acadêmico e/ou profissional, podem contar com os Psicopedagogos que os auxiliarão na identificação das causas destas dificuldades e indicarão o tratamento adequado.
P. Quem é a pessoa que trabalha com a Psicopedagogia, como é seu trabalho e como avalia o problema?
N. Os profissionais da Psicopedagogia são especialistas na área, ou seja, são formados em cursos de pós-graduação. Atualmente é necessária a graduação em Psicopedagogia.
Além desta formação os Psicopedagogos precisam estudar muito as teorias da aprendizagem, os processos mentais envolvidos no aprender e fundamentalmente  as questões afetivas, orgânicas e ambientais das quais a aprendizagem sofre influência.
Atualmente os achados das Neurociências têm contribuido muito para a prática Psicopedagógica. Cabe ao profissional estar  atualizado quanto à essas contribuições.
O trabalho, ou seja, a atuação dos Psicopedagogos se dá em consultório por meio de atendimento individualizado e com a família. Também atua nas instituições escolares junto aos docentes, tendo como foco das suas observações e intervenções as dinâmicas das relações interpessoais em sala de aula e da aprendizagem. Ele também pode atender, no contraturno,  alunos com dificuldades de aprendizagem ou nas suas relações.
Na clínica  o primeiro contato é com a pessoa que está enfrentando dificuldades de aprendizagem juntamente com a sua família, que traz a queixa.
Neste encontro o profissional é colocado a par do que ocorre com a pessoa no momento presente e se dá o fechamento do contrato de atendimento para a avaliação. Assim sendo, são acordados o número e os dias dos encontros, os valores, os combinados sobre a frequência/ausência, a data do encontro com a entrevista familiar e do fechamento da avaliação.
O processo de investigação, de avaliação, se dá num período de 8 a 10 encontros, dependendo do caso.
Posteriormente ao processo de investigação, é realizado o encontro chamado “Informe Psicopedagógico” e, de acordo com o caso, apresentado o plano de tratamento.

P. Como é o tratamento?
N. O tratamento depende dos resultados da avaliação. Portanto, a sua duração dependerá dos resultados de uma série de ações e de fatores tais como o trabalho sistemático com a educação cognitiva e afetividade, as intervenções nas dinâmicas familiar e escolar, a necessidade de alguns acompanhamentos com outros profissionais, questão pertinente a cada caso, mas  fundamentais para que se atinjam os objetivos esperados.
Para que se obtenha resultados efetivos, e sempre de acordo com o caso, normalmente é acordado com a família dois encontros semanais. Também se requer uma interação e sintonia entre o trabalho dos profissionais da escola, da Psicopedagogia e da família.
Durante as sessões são trabalhados os conteúdos escolares defasados e a cognição/afetividade por meio de jogos e outras atividades desafiadoras que motivem o aprendente a buscar alternativas e estratégias para superar os obstáculos e avançar na sua aprendizagem. 

P. E quanto ao diagnóstico de dislexia, TDAH e outros distúrbios?
N. É muito importante ressaltar que o trabalho psicopedagógico tem caráter interdisciplinar, portanto, deve ser desenvolvido em sintonia com o trabalho da equipe multidisciplinar que, dependendo do caso, deve contar com Neurologista, Psiquiatra, Fonoaudiólogo, Otorrinolaringologista, Pedagogos,Psicomotricistas e Psicólogos- atendendo no processo de avaliação e de tratamento. Os Neurologistas ou Neuropediatras e os Psiquiatras são os responsáveis pelo fechamento do diagnóstico.
Portanto, não cabe a todos os profissionais da Psicopedagogia fechar um diagnóstico de distúrbios e transtornos de aprendizagem. Isto porque muitos deles não são profissionais da área da saúde.
Como a ação psicopedagógica está especificamente voltada para as questões afins à aprendizagem, à avaliação e intervenção nos fatores intervenientes na aprendizagem, como a cognição e a afetividade, os encaminhamentos necessários, a cada caso, deverão ser feitos aos profissionais da saúde mencionados acima. 

12 de jun. de 2012

NEUROPLASTICIDADE ou PLASTICIDADE CEREBRAL

Por Norita M. Dastre
Por muitos anos os cientistas afirmaram que ao atingir determinada idade o cérebro  perderia a capacidade de produção neural, que se o tecido cerebral fosse lesado em regiões específicas por conta de derrames, traumatismos ou doenças, essa região jamais se regeneraria causando no indivíduo uma perda total da função exercida por ela.
Atualmente sabemos, por meio dos resultados das pesquisas científicas, que embora o cérebro seja incapaz de se regenerar ele possui uma capacidade de se reorganizar, ou seja, de se adaptar, de modificar o processamento das informações e que essa capacidade de modificação e rearranjo das redes de neurônios formam novas sinapses reforçadas. Assim múltiplas possibilidades de respostas ao ambiente tornam-se possíveis, pois o cérebro é altamente maleável e com os estímulos, adequados e intensos, pode-se modificar a estrutura cerebral desenvolvendo habilidades.
Segundo HOUZEL (2010)
O que nós sabemos, no entanto, é que mesmo que o cérebro não consiga reconstruir o tecido afetado, o tecido que ele perdeu, ele é capaz de usar o que sobrou e modificar a maneira como essas regiões restantes do cérebro são usadas. E a base disso tudo é o uso. A reorganização funcional do cérebro acontece quando existe demanda, quando  nós insistimos em  resolvermos  um problema. 
A descoberta da Neuroplasticidade, ou seja, da capacidade plástica do cérebro, da sua maleabilidade na qual ele se adapta às experiências e de que há uma rede de conexão neural muito ampla, portanto, de que algumas funções que anteriormente eram executadas por áreas cerebrais lesadas ou disfuncionais, podem ser assumidas por outras áreas fazendo com que ocorra uma reorganização e reestruturação das conexões neurais, desfez antigas crenças de que o cérebro só se modificava com a velhice.
Assim como o cérebro das crianças -que apresenta uma neuroplasticidade mais intensa- o  do adulto também apresenta essa plasticidade, que cria novas e corretas conexões para que ele possa aprender a cada dia mais.
As neurociências demonstraram por meio dos seus experimentos, como os realizados em 2000 por cientistas britânicos (1) com os taxistas de Londres que por exercitarem diariamente a memorização de ruas e rotas da cidade estimularam e desenvolveram o hipocampo – região fundamental da memória espacial- mais que outras pessoas e que a capacidade de memorização não declinou com o passar dos anos e sim ocorreu o contrário, pois a atividade mental contínua gerou novos neurônios que migraram para a área mais utilizada pelos motoristas, que o exercício mental e o estímulo, têm como consequência a produção de novas células nervosas.
Essa descoberta abre possibilidades para a reabilitação de pessoas com lesões cerebrais e para que as crianças e adolescentes tenham novas esperanças para o tratamento dos distúrbios e transtornos de aprendizagem.
Entendo que os educadores – pais, professores, cuidadores- que conhecerem sobre a plasticidade cerebral, as janelas de oportunidades ou os períodos críticos, sobre o Sistema de Recompensa, sobre quais estímulos e tempos adequados devem ser proporcionados  e sobre as estratégias adequadas a serem utilizadas no processo de aprendizagem, poderão contribuir sobremaneira para que as nossas crianças obtenham expertise, ou seja, excelência em várias dimensões da sua vida.


1.MAGUIRE. E, Disponível em < http://www.pnas.org/content/97/8/4398.long> Acesso: 10 ago,2011.

9 de jun. de 2012

As revelações sobre o cérebro adolescente

Novas pesquisas decifram as transformações cerebrais que acontecem na adolescência, explicam comportamentos típicos e sugerem como lidar com eles.

Mônica Tarantino, Monique Oliveira e Luciani Gomes

O que faz uma garota de 14 anos passar o dia inteiro emudecida, trancada no quarto? Ou ir do riso à fúria em menos de um segundo? Pode ser realmente difícil entender a cabeça de um adolescente. Para ajudar nesta tarefa, a ciência está empreendendo um esforço fantástico. Nos Estados Unidos, ele está sendo capitaneado pelo Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos (NIMH). O órgão – um dos mais respeitados do mundo – está patrocinando uma linha de estudos focada na busca de informações para compreender o que está por trás das oscilações de humor e comportamentos de risco que marcam a adolescência. E as informações trazidas pelos estudos realizados até agora estão construindo uma nova visão da metamorfose sofrida pelos jovens. “O cérebro do adolescente não é um rascunho de um cérebro adulto. Ele foi primorosamente forjado por nossa história evolutiva para ter características diferenciadas do cérebro de crianças e de adultos”, disse à ISTOÉ o neurocientista americano Jay Giedd, pesquisador do NIMH e um pioneiro na investigação do cérebro adolescente.
Giedd e seus colegas estão redefinindo os conceitos da medicina sobre essa fase da vida. Para eles, os tropeços da adolescência são sinais de que o cérebro jovem está procurando se adaptar ao ambiente. Nos primeiros 13 anos de pesquisa, os cientistas estudaram mudanças cerebrais ocorridas do nascimento até a velhice, na saúde e na doença. Descobriram que a adolescência é marcada por um aumento das conexões entre diferentes partes do cérebro. É um processo de integração que continuará por toda a vida, melhorando o trabalho conjunto entre as partes.

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As pesquisas revelaram ainda que, nessa etapa, dá-se o fortalecimento e amadurecimento de algumas redes de neurônios (as células nervosas que trocam informações entre si) e o abandono de outras, menos usadas. Os estudos mostraram também que a onda de maturidade se inicia nas partes mais profundas e antigas, próximas do tronco cerebral, como os centros da linguagem, e naquelas ligadas ao processamento de emoções como o medo. Depois, essa onda vai subindo rumo às áreas mais recentes do cérebro, ligadas ao pensamento complexo e à tomada de decisões. Entre elas estão o córtex pré-frontal, o sulco temporal superior e o córtex parietal superior, envolvidos na integração de informações enviadas por outras estruturas do órgão. Essa evolução explica, em parte, por que nesse período da vida a impulsividade e os sentimentos mais viscerais são manifestados com tanta facilidade, sem passar pelo filtro da razão.
Na tentativa de elucidar por que os jovens atravessam o período de crescimento como se estivessem em uma montanha-russa, um dos aspectos mais estudados é a tendência de se expor a riscos. No começo da empreitada científica para decifrar os segredos do cérebro adolescente, acreditava-se que a falta de noção do perigo iminente estivesse associada à falta de amadurecimento do córtex pré-frontal, área ligada à avaliação dos riscos que só atinge o desenvolvimento pleno por volta dos 20 anos. O avanço das pesquisas, porém, está demonstrando que por volta dos 15 anos os jovens conseguem perceber o risco da mesma forma e com a mesma precisão que um adulto.
Se sabem o que está acon­tecendo, por que os jovens se colocam em situações ameaçadoras? Embora as habilidades básicas necessárias para perceber os riscos estejam ativas, a capacidade de regular o comportamento de forma consistente com essas percepções não está totalmente madura. “Na adolescência, os indivíduos dão mais atenção para as recompensas em potencial vindas de uma escolha arriscada do que para os custos dessa decisão”, disse à ISTOÉ Laurence Steinberg, professor de psicologia da Universidade Temple, especializado em desenvolvimento adolescente e autor de “Os Dez Princípios Básicos para Educar seus Filhos”. Steinberg é um dos mais destacados estudiosos da adolescência na atualidade.

clip_image004 A afirmação do pesquisador está sustentada em exames de imagem que assinalam, no cérebro adolescente, uma intensa atividade em áreas ligadas à recompensa. Por recompensa, entenda-se a sensação prazerosa que invade o corpo e a mente após uma vitória, como ganhar no jogo ou ser reconhecido como o melhor pelo grupo. Esse processo coincide com alterações das quantidades de dopamina, um neurotransmissor (substância que faz a troca de mensagens entre os neurônios) muito importante na experiência do prazer ou recompensa. “Isso parece afetar o processo de antecipação do prêmio, de tal forma que os adolescentes se sentem mais animados do que os adultos quando percebem a possibilidade do ganho”, diz o psicólogo americano.
Ele também foi buscar na teoria da evolução a justificativa para o mecanismo cerebral que premia os jovens com sensações agradáveis por se arriscarem. “No passado, levavam vantagem sobre outros da espécie aqueles que se deslocavam e assumiam riscos em busca de um lugar com mais alimento”, pontua. “A busca por novidade e fortes emoções representaria, à luz da teoria da evolução, um sinal da capacidade de adaptação dos seres humanos a novos ambientes.” Nosso cérebro teria aprendido esse caminho e estaria reproduzindo-o até hoje. Descobertas ainda mais recentes mostram que a recompensa mexe profundamente com o cérebro. “Todas as áreas do cérebro são afetadas quando uma atitude é recompensada ou penalizada socialmente”, disse à ISTOÉ Timothy Vickery, um dos autores de um trabalho recente publicado na revista “Neuron”.
Paralelamente à configuração cerebral, existem as contribuições do mundo contemporâneo para a tendência ao prazer imediato. “Talvez as dificuldades da vida futura e do mercado de trabalho, por exemplo, levem o jovem a uma situação de viver o prazer imediato. Daí a busca pela bebida, pela droga, pelo sexo e tudo o mais no sentido de se aproveitar a vida”, diz o hebiatra (médico especializado em adolescentes) Paulo César Pinho Ribeiro, da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. De fato, por volta dos 15 anos, dá-se o pico da busca por emoções fortes. A psiquiatra Ana Cecília Marques, presidente da Associação Brasileira do Estudo de Álcool e Drogas, defende uma ação firme nesse momento. “Os pais devem assumir o seu papel e não deixar que os jovens fumem ou bebam”, diz.

O caminho para enfrentar essa questão é o diálogo. No Colégio Peretz, em São Paulo, a estratégia de conversar longamente sobre os riscos do consumo de álcool e drogas existe há dez anos. “A proposta é acompanhar os jovens e esclarecer as dúvidas que surgem durante esse período”, diz Evelina Holender, coordenadora do projeto.
A busca de emoções e o desejo de ser aceito e admirado pelos outros – duas características do adolescente – podem se converter numa mistura explosiva. O psicólogo Steinberg demonstrou claramente esse mecanismo com o auxílio de um jogo de videogame cuja proposta era dirigir um carro pela cidade no menor tempo possível. No percurso, os sinais mudavam de verde para amarelo quando o carrinho se aproximava. Se o competidor cruzasse o sinal antes de ele ficar vermelho, ganhava pontos. Se ficasse no meio da pista ou na faixa, perdiam-se muitos pontos. Ao disputarem os jogos a sós em uma sala, os jovens assumiram riscos na mesma proporção que os adultos. Mas com a presença de um ou mais amigos no ambiente houve mudança nos resultados. “Nessa circunstância, os adolescentes correram o dobro dos riscos dos adultos”, observou o pesquisador.

Leia mais:  Isto é

A vida e morte do neurônio

 

clip_image001Não faz muito tempo que os cientistas acreditavam que nascíamos com todos os neurônios que sempre teríamos. Mas em 1962, o cientista Joseph Altman desafiou essa crença quando notou evidências de neurogênese (o nascimento de neurônios) numa região do cérebro de camundongos adultos chamada de hipocampo. Posteriormente ele relatou que neurônios recém-nascidos migravam do seu local de nascimento no hipocampo para outras partes do cérebro.

Essas descobertas sobre a neurogênese no cérebro adulto surpreenderam os cientistas, mas muitos ainda acreditavam que elas não se aplicavam aos humanos. Foi quando Elizabeth Gould descobriu evidências de neurônios recém-nascidos em chimpanzés, e Fred Gage e Peter Eriksson demonstraram que o cérebro adulto humano também produzia novos neurônios.

O sistema nervoso central (que inclui o cérebro e a coluna vertebral) é composto de dois tipos básicos de células: os neurônios e as da glia. Estima-se que as células da glia superam em quantidade os neurônios em até nove vezes, mas mesmo em menor número são os neurônios que desempenham os papéis principais no cérebro. Os neurônios são mensageiros de informações, utilizando impulsos elétricos e sinais químicos para transmitir informações entre áreas diferentes do cérebro, e entre o cérebro e o resto do sistema nervoso.

Apesar da maioria dos neurônios já estarem presentes no cérebro desde o nosso nascimento, há evidências de que a neurogênese ocorre ao longo de toda a vida. Os neurônios nascem em regiões do cérebro que são ricas na concentração de células precursoras neurais (também chamadas de células-tronco neurais). Essas células têm o potencial de gerar quase todos, se não todos, os diferentes tipos de neurônios e glia encontrados no cérebro.

Uma vez que o neurônio nasce, ele tem que viajar para o lugar do cérebro onde ele vai trabalhar. Isso ocorre através de um complexo sistema de longas fibras de células da glia e de sinais químicos que guiam os neurônios através do cérebro até o seu destino final.

Nem todos os neurônios sobrevivem a essa jornada migratória de duas a três semanas. Cientistas acreditam que apenas um terço dos neurônios chega ao destino final e se estabelece de forma efetiva. Nesse processo chamado de diferenciação, um dos menos compreendidos da neurogênese, o novo neurônio passa a se assemelhar aos seus vizinhos e começa a desenvolver canais de comunicação com os mesmos.

Os demais neurônios não conseguem se diferenciar ou morrem, mas há também os que sobrevivem à jornada, mas acabam em lugares errados. Mutações nos genes que controlam a migração criam regiões de neurônios deslocados ou malformados que podem causar distúrbios como a epilepsia infantil ou retardamento mental. Alguns pesquisadores suspeitam que a esquizofrenia e a dislexia são em parte o resultado desses neurônios perdidos.

Apesar dos neurônios serem as células mais longevas do nosso corpo e um grande número de novos neurônios morrerem durante o processo de diferenciação e migração, a vida de alguns neurônios saudáveis também pode sofrer reveses. Danos físicos ao cérebro e à coluna vertebral, como um traumatismo ou um derrame (AVC), podem matar neurônios imediatamente ou lentamente matá-los de falta de oxigênio e nutrientes necessários à sua sobrevivência. Algumas doenças do cérebro, como as de Parkinson, Alzheimer e Huntington, são o resultado da morte não natural de neurônios.

Cientistas buscam entender cada vez mais sobre a vida e morte dos neurônios na esperança de desenvolver novos tratamentos, e possivelmente até curas, para doenças e distúrbios cerebrais que afetam milhões de pessoas no mundo todo.

Para nós é importante entendermos os fatores que afetam a vida e morte dos neurônios para podermos garantir uma vida mais longa e com bem-estar, tomando atitudes que promovam o nascimento de novos neurônios e adiem a sua morte, tais como: exercícios físicos, estímulos cognitivos (jogos para o cérebro), alimentação balanceada, sono adequado, socialização e controle do estresse.

Fonte: Cérebro Melhor

Cérebro Adolescente

cérebro de adolescenteCELSO ANTUNES

Recentes estudos sobre o cérebro humano, realizados através das análises de imagens obtidas com a Ressonância Magnética Funcional, alteram a visão que se possuía sobre esse órgão promotor das ações humanas e entre todas essas mudanças, as que parecem intervir de forma mais direta sobre o que se pensa em educação diz respeito ao cérebro do adolescente.

Não muito tempo atrás se afirmava que o cérebro humano apresentava-se extremamente plástico e mutável na infância, mas que se consolidava por volta dos doze anos e, dessa forma, o cérebro adolescente era praticamente igual ao cérebro adulto e as diferenças comportamentais entre ambos devia-se essencialmente a questão hormonal. Hoje sabemos que os hormônios contam – e muito – na intempestividade adolescente, mas pode a mesma ser ampliada pelo amadurecimento do córtex pré-frontal. Não parece importar para a natureza destas considerações a essência biológica dessas mudanças, e sim de que natureza são, e de que forma pais e professores podem intervir de forma positiva visando uma ajuda.

É sempre importante realçar que mudanças cerebrais ocasionam alterações comportamentais involuntárias e, dessa maneira, nenhum adolescente se transforma da forma como se transforma porque assim quer agir ou porque adora imitar colegas que assim agem, mas pela ação de processos orgânicos que não sabe explicar e não pode controlar. É por essa razão que bem mais útil que criticar e punir é compreender e ajudar.

Assim considerando, relacionamos algumas mudanças que a neurologia já detecta e sugerimos algumas práticas que podem constituir cooperação expressiva.

1. O cérebro das meninas desenvolve-se cerca de dois anos mais cedo que o cérebro de meninos e somente por volta dos vinte a vinte e dois anos é que esse desenvolvimento se equipara. Essa diferença claramente notada mostra que a maturidade chega bem mais cedo do lado das meninas e, muito antes que os meninos podem abrir mão de atento acompanhamento. De qualquer forma é sempre importante considerar o julgamento que o adolescente faz de si mesmo, respeitá-lo plenamente, ainda que sabendo que esse autojulgamento é sempre mais instável e, portanto, sujeito a bruscas alterações por parte dos meninos. Se a menina, entretanto, é coerente e mais cedo que o menino é também melhor arquiteta na capacidade em simular uma segurança que não sente e, por esse motivo, a presença do adulto sempre perguntando, interrogando, desafiando, propondo representa estratégia sutil de envolvimento e caminho sereno de abertura para “soltar” a vontade de falar e pedir orientação. É essencial que professores e pais ajudem os adolescentes a organizarem sua agenda, administrarem seu tempo e disponibilizarem-se em estar sempre prontos para ouvir, intervindo quando solicitado, mas é impossível esperar que a seriedade da condução dessa administração aconteça com igual intensidade em sexos diferentes;

2. De forma geral, no inicio da adolescência e até por volta dos 15 anos ainda crescem áreas cerebrais ligadas à linguagem, razão pela qual é a fase em que se percebe grandes progressos na capacidade de escrita e nos interesses pela leitura. Esse interesse, entretanto, estiola-se sem a ajuda de estímulos proporcionados por pais e professores que animem o adolescente à leitura, interrogue-os sobre o que estão lendo, despertem seus entusiasmos para a escrita, anime-os a organizar seus diários, que representam oportunidade excelente para acréscimo na qualidade da expressão e capacidade de reflexão através da conversa interior que tal prática impõe. Quando possível, é esse o grande momento para a aprendizagem de línguas estrangeiras.

3. O desenvolvimento lingüístico aumenta os “diálogos interiores” do adolescente e, dessa maneira, conversando muito e sempre consigo mesmo, preferem evitar conversas com pais e professores, fugindo de relatos sobre suas ações, pensamentos e julgamentos. É nessa hora que cresce a importância de se estimular o que mais se evita, abrindo espaços para que apareçam “bons papos”, longas conversas com adultos e estes, nessa oportunidade, devem menos aconselhar e mais ouvir. Quem sabe ouvir, sabe sugerir que o adolescente reflita sobre o que fala e “empurrado serenamente a essa ação” pode completá-la de maneira progressiva e consciente. Mais importante que a certeza de se mostrar “bons caminhos” é a serena ajuda no sentido de se ouvir o adolescente, propondo que ele próprio busque esses caminhos.

4. Cérebros em mudança são sempre sensíveis a palavras, mas são ainda mais sensíveis a exemplos. Se impossível fornecer exemplo permanente de ação digna e de pensamentos altruístas, que ao menos possa se exaltar essa qualidade, convidando o adolescente a refletir sobre a ação admirável de personagens que assiste no cinema ou na TV, sobre ídolos que edifica das boas leituras que faz. Fazê-los falar sobre entes que admiram, constitui uma forma coerente de legitimar um exemplo ainda que fictício.

5. As rápidas mudanças no córtex pré-frontal ocasionam intensa agitação que se manifesta pela extrema ousadia e imprudência geralmente associadas a comportamentos irresponsáveis, muito mais nas intenções que nas ações. Horrorizar-se diante de respostas dessa natureza de nada adianta, como adianta muito pouco buscar uma repressão direta. Em circunstâncias como essas é extremamente válido solicitar a ajuda na construção de regras consensuais e mostrar-se árbitro rigoroso em seu cumprimento. Uma coisa é o adolescente aceitar regra imposta pelo adulto, outra coisa é assumir os efeitos e sanções das regras que ele próprio foi chamado a construir. Ainda que se rebele com palavras, todo adolescente admira o adulto coerente, firme ao exigir o que sabe de sua parte cumprir.

Pais e professores que facilmente se aborrecem com a imprevisibilidade adolescente, aborrece-se também com a imaturidade de certos patrões ou com a instabilidade de certos amigos, mas por serem patrões ou por acreditarem que importa preservar a amizade, sabem ceder e com tolerância compreender o outro. Quem sabe aceitar os desatinos de um patrão em nome do emprego que não pode perder e sabe aceitar as esquisitices de um amigo que adora preservar, sabe adaptar-se a um adolescente que muito mais que patrões e amigos vivem momentos involuntários de oscilações, que clamam por compreensão e amor.

Fonte:Celso Antunes

Fig. http://www.egocreanetperu.com/factor.htm

Aprender é modificar sinapses

por Suzana Herculano-Houzel

Você não lembra disso, mas um dia você não soube fazer algo tão simples quanto olhar um objeto e estender a mão para alcançá-lo por livre e espontânea vontade. Muita coisa mudou no seu cérebro desde então, e a capacidade que lhe permite hoje escrever seu nome, fazer coisas complicadas ao computador e dirigir seu carro tem nome: aprendizado.

Sem o aprendizado - ou seja, a capacidade do cérebro de mudar seus circuitos e modo de funcionar conforme suas próprias experiências são bem ou mal sucedidas, estaríamos fadados a viver com as funções com as quais nascemos, e nada mais.

O que exatamente acontece no cérebro durante o aprendizado? As sinapses, pontos de troca de informação entre neurônios, mudam. As que foram usadas com sucesso são fortalecidas, enquanto as que levaram a erro ou não serviram para nada são enfraquecidas, algumas a ponto de atrofiarem e desaparecerem. Além disso, novas sinapses também podem aparecer - e um estudo recente mostra que isso pode acontecer mais rapidamente do que se imaginava.

Em estudo publicado em novembro de 2009 na revista Nature, pesquisadores dos Estados Unidos testaram o aprendizado motor em camundongos e constataram que ele leva a uma rápida formação de novas sinapses no cérebro de camundongos adolescentes e até adultos. Tonghui Xu e colegas, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, estudaram camundongos de 1 mês de idade – considerados adolescentes – e outros de mais de 4 meses de idade, já adultos. Os animais eram colocados em gaiolas onde aprendiam a alcançar sementes através de uma fenda. Menos de uma hora depois de aprenderem a tarefa, já se encontrava um número significativo de novas conexões formadas entre neurônios do córtex motor do lado do cérebro responsável pelos movimentos aprendidos, mas não no córtex do outro lado, que não havia sido usado na tarefa. Esperava-se que a formação de sinapses novas levasse dias para acontecer. No entanto, o estudo de Xu e sua equipe mostra que o remodelamento estrutural das sinapses acontece quase imediatamente. Aprender, portanto, é mudar o cérebro – e na mesma hora.

Com o mesmo aprendizado, camundongos jovens ganharam mais conexões novas do que os adultos, sobretudo aqueles jovens que haviam aprendido melhor a tarefa. Mas pessoas de mais idade, não temam: os adultos no estudo também ganharam novas sinapses - apenas não tão rapidamente quanto os mais jovens.

Ao mesmo tempo em que o aprendizado leva à formação de novas sinapses, outras são perdidas: o resultado do aprendizado não é um aumento no número total de sinapses, mas uma mudança no conjunto de sinapses existentes. Em cerca de duas semanas, o número total de sinapses já está de volta aos níveis anteriores ao aprendizado – embora as sinapses agora sejam outras. Sinapses que já eram estáveis, que podem ser a base da memória motora duradoura, aparentemente não são perturbadas pelo aprendizado – o que ótimo: assim você não esquece como andar de bicicleta se começar a fazer aulas de dança! (SHH, 15/04/2010)

Fonte: Xu T, Yu X, Perlik AJ, Tobin WF, Zweig JA, Tennant K, Jones T, Zuo Y (2009) Rapid formation and selective stabilization of synapses for enduring motor memories, Nature 462, 915-9.

1 de jun. de 2012

CÉREBRO E A APRENDIZAGEM-ESTRUTURA CEREBRAL

Por
Norita M. Dastre 
 
Ao nascermos nosso cérebro, parte do nosso encéfalo, um misto de massa cinzenta -composta por corpos dos neurônios- e branca -composta pelos seus prolongamentos (axônios[1]), tem a forma de miolo de uma noz, pesa cerca de 350 - 400g e é composto por água 77-78%; lipídios 10-12%; proteína 8%; carboidratos 1%; substâncias orgânicas solúveis 2%; sais inorgânicos 1%[2]. Atinge 50% do seu desenvolvimento total até o primeiro ano de vida e completamente por volta dos 21 anos, chegando a pesar 1,400kg na idade adulta.

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Fig. 1 


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O cérebro é formado por células nervosas chamadas neurônios (Fig.3), aproximadamente em número de 100 bilhões[3] que diferem de outras células por processarem informação e desencadear informações sobre o estado interno do organismo e seu ambiente externo, avaliar esta informação, e coordenar atividades apropriadas à situação e às necessidades correntes das pessoas[4]. O prolongamento da célula nervosa – axônio- responsável pela condução dos impulsos elétricos disparados no corpo celular é recoberto por uma substância gordurosa –mielina- que é responsável pela condução dos impulsos elétricos entre o cérebro e outras partes do corpo, função importante para a aprendizagem.
A informação é processada através de um evento conhecido como impulso nervoso que se interconectam por meio das sinapses[5]
 
sinapseFig.3. Estrutura de um Neurônio 


O cérebro nasce com aproximadamente 250 milhões de sinapses e esse número praticamente dobra no primeiro ano de vida do bebê, ou seja, o cérebro cresce por meio das centenas de milhares de conexões neurais resultantes das experiências com o meio, gerando um excesso de sinapses que futuramente serão descartados.
É dividido em dois hemisférios ligados por uma estrutura fibrosa chamada corpo caloso, que faz a integração das áreas específicas de cada um deles, interdependentes para a realização das suas funções.
Anatomicamente os hemisférios são parecidos, mas funcionalmente são muito diferentes. De acordo com os neurocientistas o Hemisfério Cerebral Esquerdo (HCE) pensa em palavras, ou seja é mais verbal, é analítico, racional e lógico matemático, enquanto no Hemisfério Cerebral Direito (HCD) encontram-se as funções do raciocínio, do reconhecimento da fala e de cores, da prosódia e da sua compreensão, do pensar em imagens e sentimentos, do reconhecimento de faces, entre outras.
As funções de cada hemisfério foram identificadas pelos neurocientistas por meio de imagens funcionais, em que a observação do cérebro em funcionamento das áreas ativadas mediante cada experiência (durante a leitura, a escuta ou atividade motora, etc.) possibilitou que conhecêssemos essas funções.

As diferenças funcionais são descritas em Pantano e Ferreira (2010, p.18) assim:

Hemisfério Cerebral Esquerdo Hemisfério Cerebral Direito
Em 98% das pessoas é no HCE que está localizada a função de linguagem, fala e escrita; Pergunta-se “por que não?” e quebra regras;
Os neurotransmissores dominantes são a dopamina e a acetilcolina, que proporcionam o controle motor fino tanto manual como para a fala; O neurotransmissor dominante é a norepinefrina que estimula a percepção de novos estímulos viso-espaciais.
É responsável pela sintaxe e semântica do idioma; Capta o simbolismo, a metáfora do texto e fala;
Permite a compreensão do significado literal da palavra; Avalia o contexto, entonação, ritmo da fala (prosódia);
Favorece a praticidade nas ações, a ser prático nas atividades e nas conclusões; Possibilita a criatividade e, imaginação.
Permite a interpretação linear e sequencial dos acontecimentos; Avalia o acontecimento de forma global, sem se deter em detalhes.
Reduz algo complexo em partes mais simples; Oferece a sensação de antipatia, mesmo imotivada, sem ter certeza da razão, do porquê;
Procura por detalhes; Oferece a percepção de profundidade, reconhecimento do rosto e do estado emocional;
Classifica e ordena os estímulos; Estabelece padrões sem seguir um processo etapa por etapa
Faz interpretação e justificação dos acontecimentos; Permite uma visão holística da situação
Realiza observação focada, dirigida do acontecimento; Percebe o todo e o padrão do acontecimento;
Segue um padrão lógico; Segue a intuição.
É objetivo; É subjetivo;
Estima o tempo cronologicamente, hora a hora, dia a dia; Vê o tempo como um todo- um projeto, uma carreira;
Encara os fatos como verdadeiro ou falso, branco ou preto; Percebe o humor e a estética dos acontecimentos.
Retém a memória recente;
Tem espírito crítico e “vocação pessimista”. Pensa positivamente, sem preocupar-se com ideias preconcebidas.
Tabela 1: Elaborada pela pesquisadora com base em PANTANO&ZORZI (2010).

Podemos observar que  essas funções complexas somente podem ocorrer se a integridade da estrutura cerebral estiver preservada e se os estímulos para que elas se desenvolvam adequadamente se dê nos períodos críticos.

 

[1] Axônio fibra nervosa é o elemento emissor de impulsos nervosos; é sempre único e geralmente menor do que os dendritos. O axônio pode ser emitido ainda durante a migração, crescendo ao longo de um trajeto preciso até as células-alvo.
[2] LENT, Roberto. Cem Bilhões de neurônios
[3] http://faculty.washington.edu/chudler/facts.html
[4] http://www.cerebromente.org.br/n07/fundamentos/neuron/rosto.htm
[5] Sinapses são
PANTANO, T. , ZORZI. J.L. Neurociência Aplicada à Aprendizagem. São José dos Campos: Pulso, 2010.

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