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5 de jun. de 2009

DISTÚRBIO, TRANSTORNO OU DIFICULDADE?



Aprender é um processo pelo qual o comportamento se modifica em conseqüência da experiência. E, para que a aprendizagem aconteça, é necessário haver integridades básicas das funções psicodinâmicas (aspectos psicoemocionais), do sistema nervoso periférico (canais para a aprendizagem simbólica) e do sistema nervoso central (armazenamento, elaboração e processamento da informação).

Se uma ou mais funções estão comprometidas, crianças, adolescentes ou adultos apresentam desempenho acadêmico abaixo do esperado e, por isso, são comumente rotulados como pessoas com problemas de aprendizagem. Atualmente, no entanto, quando profissionais de saúde e educação têm à sua disposição os conhecimentos gerados pelas neurociências, já não é possível continuarmos a fazer tal generalização. Afinal, intervenções precisas só podem ser realizadas se, a partir dos sintomas observados, forem feitos diagnósticos corretos.

Primeiramente, é preciso que reconheçamos as diferenças entre distúrbio, transtorno e dificuldade, o que acontece com base não só na região cerebral afetada e na função comprometida como também nos problemas resultantes.


A palavra distúrbio pode ser traduzida como "anormalidade patológica por alteração violenta na ordem natural". Assim, o distúrbio é uma disfunção no processo natural da aquisição de aprendizagem, ou seja, na seleção do estímulo, no processamento e no armazenamento da informação e, conseqüentemente, o problema aparece na emissão da resposta. É um problema em nível individual e orgânico, que resulta em déficits nas medidas das habilidades de linguagem: fala, leitura e escrita. É uma disfunção na região parietal (lateral) do cérebro, com falha na atenção sustentada, no processamento do estímulo e na resposta que é dada a ele, causando lentidão no processamento cognitivo e na leitura, sem comprometimento comportamental aparente.

O transtorno decorre de uma disfunção na região frontal do cérebro, que provoca perturbação na pessoa devido à falha na entrada do estímulo, e da integração de informações, comprometendo a atenção seletiva e gerando impulsividade e dificuldade vísuo-motora. As respostas em tarefas que exigem habilidade de leitura e memória de trabalho são inibitórias. Com isso, esse quadro transtorna a vida da pessoa, em razão do evidente comprometimento comportamental.

Por serem de origem interna, distúrbios e transtornos independem do desejo que o portador possa ter de desempenhar atividades da forma que a família, a escola ou a sociedade esperam dele. Ele precisa, portanto, de ajuda especializada, para atingir os objetivos de desempenho social e acadêmico satisfatório.

Já a principal característica da dificuldade é ser escolar. Nas dificuldades escolares estão inseridos os atrasos no desempenho acadêmico por falta de interesse, perturbação emocional, inadequação metodológica ou mudança no padrão de exigência da escola, quer dizer, advêm de diversas alterações evolutivas normais que, no passado, já foram consideradas como alterações patológicas.

Pain (1981) considera a dificuldade de aprendizagem um sintoma, que cumpre uma função positiva, tão integrativa como o próprio aprender: por ser intimamente ligada às mudanças sociais e culturais, à escola, às metodologias empregadas e, muitas vezes, ao despreparo profissional, a percepção do problema e das suas origens é o caminho para a intervenção adequada, que passa também pelo exercício de uma melhor prática pedagógica.

Em resumo, distúrbios e transtornos de aprendizagem requerem uma equipe multidisciplinar, enquanto as dificuldades escolares pedem acompanhamento psicopedagógico, que possa minimizar as interferências externas que prejudicam a aprendizagem.

Podemos concluir, então, que as neurociências abriram as suas fronteiras e que, nesse novo contexto, faz-se necessária uma mudança de paradigmas no sistema educacional, de modo que a interface entre saúde e educação - cujo foco é o aprendizado normal, assim como seus principais problemas - possa gerar uma neuropedagogia. Juntas, essas duas áreas certamente poderão trilhar, de modo muito melhor, os caminhos para alcançar o objetivo maior: a plena realização de todo ser humano, respeitando-se SEMPRE os talentos e as habilidades de cada um.

Lucília Panisset

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