NEUROCIÊNCIAS E APRENDIZAGEM
Por Norita M. Dastre
As neurociências compreendem as
disciplinas que estudam o Sistema Nervoso Central e têm como uma das suas
abordagens a Neurociência Cognitiva que estuda as capacidades mentais complexas
como pensamento, o planejamento do uso da linguagem, a memória e o processo de
aprendizagem. Por Norita M. Dastre
O
processo de aprendizagem ocorre se
essas funções mentais estiverem íntegras e, no caso da aprendizagem
escolar se as práticas pedagógicas forem planejadas com base no
conhecimento de
como se aprende e de como se deve ensinar.
A
Neurociência contribui com a educação ao estudar o Sistema Nervoso Central
(SNC), a organização funcional e as áreas especializadas do cérebro
responsáveis pela recepção, processamento, sedimentação e recuperação das
informações. Por meio desses estudos temos conhecimento sobre como o ser humano aprende, se comporta e se
relaciona com esse aprendizado.
Para os
educadores é fundamental conhecer e compreender os processos cognitivos[1],
os
seus estágios de desenvolvimento e os períodos críticos de aprendizagem
(Janelas de Oportunidades), assim como os fatores intervenientes nesse
processo, que é interdependente, ou seja, os fatores orgânicos,
psicológicos e sociais.
A Educação pode dialogar com a área da
Neurociência Cognitiva que, com seus achados contribui para o desenvolvimento
dessas ações pedagógicas que norteiam a identificação das necessidades
educativas dos alunos e as possibilidades de intervenção, assim como desenvolver
estratégias de ensino que estimulem o cérebro potencializando a aprendizagem,
inclusive daqueles que não apresentam dificuldades, promovendo a efetiva
inclusão de todos os alunos.
CONCEITUANDO NEUROCIÊNCIAS
A Neurociência é o conjunto de disciplinas biológicas, de
diferentes áreas do conhecimento como a neurologia, biologia, psicologia,
fisiologia, farmacologia, patologia e bioquímica que investiga o sistema
nervoso central (SNC), a sua formação, o seu desenvolvimento, as suas
semelhanças e diferenças entre as espécies e entre os indivíduos. Compreende
cinco disciplinas: as neurociências molecular, celular, sistêmica, comportamental
e cognitiva. A interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade são
características da neurociência já que o diálogo entre as suas disciplinas é
fundamental para a compreensão do complexo SNC.
Segundo Lent (2010) os profissionais que lidam com o
sistema nervoso são de dois tipos: os neurocientistas, cuja atividade é a
pesquisa científica em Neurociências; e os profissionais da saúde, cujo
objetivo é preservar e restaurar o desempenho funcional do sistema nervoso. Os
neurocientistas são formados em cursos de pós-graduação específicos para o
estudo do sistema nervoso e podem trabalhar como professores universitários ou
como pesquisadores de instituições científicas não universitárias.
Atualmente os profissionais e estudiosos de outras áreas do
conhecimento como engenheiros e artistas gráficos estão se dedicando ao estudo
do SNC. No caso dos engenheiros porque vários dos seus instrumentos de trabalho
como computadores, máquinas e robôs são projetados com base nos conceitos da
neurociência e dos artistas por conta da necessidade de conhecer os conceitos sobre a percepção visual das
cores e dos movimentos (LENT,2010).
Os profissionais que lidam com o processo de ensino e
aprendizagem, principalmente professores, pedagogos e psicopedagogos,
atualmente podem contar com disciplinas advindas das neurociências como a
neuroeducação, a neuropedagogia e a neuropsicopedagogia.
No princípio os neurocientistas descreviam, por exemplo, a
limitação das capacidades cerebrais no momento em que o cérebro atingia o seu
pleno desenvolvimento. De acordo com os estudos da época não havia a
possibilidade de ocorrer modificação no cérebro, na sua estrutura, ou seja, devido a lesões ou tumores as áreas afetadas não
recuperariam suas funções, mesmo que parcialmente.
Embora sendo uma ciência jovem, com cerca de 150 anos,
aproximadamente (HOUZEL,2010, p.6), nos trouxe muitos achados consistentes
sobre a formação, o desenvolvimento e o funcionamento cerebral, ou seja, por
meio dos seus estudos atualmente podemos conhecer o que ocorre no cérebro vivo,
no momento em que ele está realizando uma atividade e consequentemente podemos
compreender as bases das disfunções neurológicas e do aprendizado humano.
Um desses achados trata da capacidade que o cérebro
apresenta de, por meio da estimulação e da experiência, se modificar, portanto
um cérebro com áreas com disfunções ou lesionadas tem a capacidade de se
reorganizar e se reestruturar por meio das novas conexões neurais criadas a partir
de cada nova experiência e estímulos. Essa capacidade é chamada de
neuroplasticidade.
Para que isso fosse possível, a partir da década de 1970 novas
tecnologias para o imageamento do encéfalo e da medula espinhal de seres vivos
foram desenvolvidas como o Tomografia Computadorizada Axial- (TCA), a Imagem
por Ressonância Magnética funcional- (fMRI) e a Tomografia por Emissão de Pósitrons-
(PET SCAN), a Simulação Magnética
Transcraniana (TMS) e a Estretroscopia Infravermelha Próxima (NIRS) desvendando os mistérios antes escondidos pelas imagens
estanques dos eletroencefalograma e Raios X.
Antigas crenças sobre o pouco uso de toda a capacidade
cerebral, sobre as etiologias de determinadas doenças neurológicas, sobre as
limitações físicas e motoras causadas por lesões cerebrais, sobre a limitação
no processo de aprendizagem por conta da idade avançada e sobre as funções
específicas não integradas em áreas determinadas de cada um dos
hemisférios cerebrais -como a de que o lado esquerdo do cérebro é racional e o
direito criativo e emocional- caíram por terra a partir das descobertas das
Neurociências.
Hoje sabemos que todas as regiões do cérebro humano
funcionam permanentemente e que regiões específicas estão sempre ativas, embora
em níveis diferentes a cada instante. Esse funcionamento de todas as atividades
das áreas especializadas do cérebro ocorrendo de forma integrada e associada
resulta no que somos (HOUZEL,2010).
NEUROCIÊNCIA COGNITIVA
A Neurociência
Cognitiva é uma das cinco áreas neurocientíficas
que se ocupa dos estudos das capacidades mentais mais
complexas como o planejamento do uso da linguagem, a memória, a
autoconsciência, o pensamento, ou segundo Gazzaniga (2006) trata (...)
do que representa a vida, a mente, o sexo, o amor, o pensamento, o sentimento,
o movimento, a atenção, o lembrar, o comunicar e o ser. Melhor, (...) trata do estudo científico
destas grandes questões.
Surgiu
da necessidade dos neurocientistas (biólogos) e dos psicólogos cognitivos
conhecerem como o cérebro cria a mente. Atualmente investiga também como
a mente pode afetar o cérebro e o organismo, assim como o contrário (Fóz, 2010,
p.170).
O termo Neurociência Cognitiva, que foi aceito pela
comunidade científica, surgiu, segundo Gazzaniga (2006), dentro de um táxi no
final da década de 1970, em companhia do fisiologista
Dr. George A. Miller a caminho de um jantar
oferecido por cientistas que estudavam como o cérebro dá origem à mente (2006, p. 19).
Gazzaniga
em seu livro Neurociência Cognitiva: a
biologia da mente traça o caminho percorrido pelos cientistas do início do
século XIX que iniciaram a jornada em busca do conhecimento sobre como o
encéfalo trabalha. Laboratórios foram
criados e experimentos realizados por cientistas para a compreensão de toda a
sua complexidade.
Para
ele o tema central dos estudos da pesquisa moderna é se o cérebro
funciona como um todo, ou se partes dele trabalham independentemente,
constituindo a mente (GAZZANIGA, 2006,p. 20).
Para que se possa compreender o
trabalho dos neurocientistas cognitivos é fundamental saber o que vem a ser cognição. Segundo a sua etimologia, origina-se do Latim cognitio onis, que significa origem, aquisição
de um conhecimento, percepção. É a capacidade de adquirir conhecimento por meio
da aprendizagem (Fóz, 2010, p.170).
As principais funções
cognitivas são a percepção, atenção, memória, linguagem e funções executivas[1]. Ao
utilizarmos de operações mentais como identificação, classificação, análise,
comparação, sintetização, codificação/decodificação e seriação estamos tendo um
funcionamento cognitivo eficaz.
Função Executiva (FE) se refere
ao processo cognitivo cuja função é o planejamento, a iniciação e a execução de
tarefas, pela memória operacional, pela atenção sustentada e pelo controle
inibitório dos impulsos. São normalmente desenvolvidas, no córtex pré-frontal,
no início da infância e atingem a maturação completa aos por volta dos vinte anos.
Essas funções tão complexas
dependem de outras funções para o seu funcionamento e caso haja alguma
disfunção, normalmente as pessoas apresentam dificuldades de aprendizagem, apatia,
impulsividade dentre outros sintomas.
Segundo Pantano
São consideradas
funções executivas: a capacidade de tomar decisões, o julgamento de situações,
a crítica, a compreensão de regras e normas, a organização e o planejamento, a
flexibilidade mental, a abstração de conceitos, a resolução de problemas o
sequenciamento de ações, o controle do comportamento, a motivação e a
iniciativa, entre outras. (2010, p.166)
Para além da simples aquisição
de conhecimento existe uma habilidade de compreensão sobre a cognição, que é a
capacidade de conhecer o seu próprio funcionamento para aprender refletindo
sobre as suas ações, a chamada Metacognição. Para se ter
essa conscientização e compreensão é
preciso que as funções executivas estejam preservadas.
Para
Fonseca (2007) cada vez mais se compreende melhor a relação funcional
entre a estrutura (neurologia) e a função (psicologia), que nos explicam como a
cognição resulta da integridade biológica e da complexidade da interação
sociocultural. (FONSECA, 2007).
Funções Executivas
e Metacognição podem ser ensinadas nas escolas e em casa com programas estruturados
de treinamento e organização de atividades simples realizadas cotidianamente
pelas crianças e adolescentes, como veremos mais a frente.
1. Função executiva é um conceito neuropsicológico.
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FONSECA, V. da Cognição,
neuropsicologia e aprendizagem: abordagem neuropsicológica e psicopedagógica.
Petrópolis: Vozes, 2007
HOUZEL-H.S. Neurociências na Educação. DVD 3:
Neurociências: contribuições para a aprendizagem. Editora
Cedic.
FOZ, A. Neurociência na Educação I. In PANTANO, T. ; ZORZI,
J.L. Neurociência Aplicada à aprendizagem. São José dos Campos: Pulso, 2009,
p.171.
GAZZANIGA,
Michael S.; IVRY, Richard B.; MANGUN, George R. Neurociência cognitiva: a
biologia da mente. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. 768 p.
LENT, Roberto.
Cem Bilhões de Neurônios: Conceito Fundamental da Neurociência. Rio de
Janeiro: Vieira & Lent Casa Editorial, 2002.
PANTANO, T. ,
ZORZI. J.L. Neurociência Aplicada à Aprendizagem. São José dos Campos 2010
Ode para o cérebro
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Ode para o cérebro
Fonte:The symphony of science
(Carl Sagan's lyrics written by Carl Sagan, Ann Druyan and Steven Soter)
[Robert Winston]
It's amazing to consider that I'm holding in my hands
The place where someone once felt, thought, and loved
For centuries, scientists have been battling to understand
What this unappealing object is all about
[Vilayanur Ramachandran]
Here is this mass of jelly
You can hold in the palm of your hands
And it can contemplate the vastness of interstellar space
[Carl Sagan]
The brain has evolved from the inside out
It's structure reflects all the stages through which it has passed
[Jill Bolte Taylor]
Information in the form of energy
Streams in simultaneously
Through all of our sensory systems
And then it explodes into this enormous collage
Of what this present moment looks like
What it feels like
And what it sounds like
And then it explodes into this enormous collage
And in this moment we are perfect
We are whole and we are beautiful
[Robert Winston]
It appears rather gruesome
Wrinkled like a walnut, and with the consistency of mushroom
[Carl Sagan]
What we know is encoded in cells called neurons
And there are something like a hundred trillion neural connections
This intricate and marvelous network of neurons has been called
An enchanted loom
The neurons store sounds too, and snatches of music
Whole orchestras play inside our heads
20 million volumes worth of information
Is inside the heads of every one of us
The brain is a very big place
In a very small space
No longer at the mercy of the reptile brain
We can change ourselves
Think of the possibilities
[Bill Nye]
Think of your brain as a newspaper
Think of all the information it can store
But it doesn't take up too much room
Because it's folded
[Oliver sacks]
We see with the eyes
But we see with the brain as well
And seeing with the brain
Is often called imagination
[Various]
[Robert Winston]
It is the most mysterious part of the human body
And yet it dominates the way we live our adult lives
It is the brain
(Carl Sagan's lyrics written by Carl Sagan, Ann Druyan and Steven Soter)
[Robert Winston]
It's amazing to consider that I'm holding in my hands
The place where someone once felt, thought, and loved
For centuries, scientists have been battling to understand
What this unappealing object is all about
[Vilayanur Ramachandran]
Here is this mass of jelly
You can hold in the palm of your hands
And it can contemplate the vastness of interstellar space
[Carl Sagan]
The brain has evolved from the inside out
It's structure reflects all the stages through which it has passed
[Jill Bolte Taylor]
Information in the form of energy
Streams in simultaneously
Through all of our sensory systems
And then it explodes into this enormous collage
Of what this present moment looks like
What it feels like
And what it sounds like
And then it explodes into this enormous collage
And in this moment we are perfect
We are whole and we are beautiful
[Robert Winston]
It appears rather gruesome
Wrinkled like a walnut, and with the consistency of mushroom
[Carl Sagan]
What we know is encoded in cells called neurons
And there are something like a hundred trillion neural connections
This intricate and marvelous network of neurons has been called
An enchanted loom
The neurons store sounds too, and snatches of music
Whole orchestras play inside our heads
20 million volumes worth of information
Is inside the heads of every one of us
The brain is a very big place
In a very small space
No longer at the mercy of the reptile brain
We can change ourselves
Think of the possibilities
[Bill Nye]
Think of your brain as a newspaper
Think of all the information it can store
But it doesn't take up too much room
Because it's folded
[Oliver sacks]
We see with the eyes
But we see with the brain as well
And seeing with the brain
Is often called imagination
[Various]
[Robert Winston]
It is the most mysterious part of the human body
And yet it dominates the way we live our adult lives
It is the brain
Psicopedagogia + Neurociência = casamento perfeito.
ResponderExcluirExcelente matéria. parabéns!
Obrigada!
ExcluirParabéns pelo blog! Bem estruturado!
ResponderExcluirTexto excelente.
ResponderExcluirAmei
ResponderExcluirExcelente!
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