Por Norita M. Dastre
Os processos envolvidos na aprendizagem são a sensação, em que os estímulos incidem sobre os receptores; a atenção, pré-requisito para a aprendizagem é fundamental para a recepção da informação, pois precisamos ter atenção para focar no estímulo que queremos aprender; a concentração, decorrente da fixação da atenção; a percepção, processo complexo em nível cortical responsável pela interpretação e codificação da informação e a memorização, retenção da informação pelas áreas da memória pelo córtex cerebral.
Para a Neurociência Cognitiva (NC) a atenção é a porta para a aprendizagem e o seu desenvolvimento depende da interação entre as estruturas do tronco encefálico e das suas conexões com o córtex frontal. É um processo complexo.
Nas escolas muitas crianças e adolescentes que são considerados desatentos apresentam baixo desempenho acadêmico. Pode ser que esses alunos não sejam realmente desatentos, mas sim ainda têm a atenção involuntária ou dividida e por este motivo não aprenderam a selecionar qual estímulo deve ser focado.
Gazzaniga (2010) define a atenção como sendo um mecanismo cerebral cognitivo que possibilita processar informações, pensamentos ou ações relevantes, enquanto ignora outros irrelevantes ou dispersivos.
Há vários tipos de atenção: a atenção involuntária ou passiva que é voltada para eventos externos ao indivíduo como os barulhos, uma porta que se abre, um cheiro, etc.; a atenção voluntária ou ativa que é a vigília; a atenção sustentada na qual o sujeito se mantém atento ao que está sendo tratado por um longo período; a atenção alternada ou dividida, quando se sai de um foco de atenção e a compartilha com outros estímulos e a atenção seletiva, que é o que fazemos com o que nos é significativo, ou seja, selecionamos aquilo que nos interessa.
O nosso cérebro consegue prestar atenção em uma coisa de cada vez devido às próprias limitações e não porque vivemos em um mundo altamente distrativo. Quando pensamos que estamos atentos a vários estímulos do ambiente (como estudar ouvindo música ou assistindo a TV ao mesmo tempo) na verdade estamos captando fragmentos de cada um desses estímulos e não estamos realmente atentos a nenhum deles.
As teorias da seleção precoce versus tardia defendem que o sistema de processamento de informação humano não pode processar simultaneamente múltiplos sinais de entrada se há uma alta carga de informação, de forma que o sistema deve tomar uma “decisão” difícil sobre o que processar a seguir – o cerne da seleção (GAZZANIGA, 2010 p.269). Para aprender é necessário focar em apenas um estímulo.
Estando atento a um estímulo o cérebro registra a informação na memória, que é a capacidade que temos de adquirir, formar, conservar informações e recuperá-las, de acordo com as nossas necessidades para poder utilizá-las no presente. Ela é uma das funções cognitivas mais utilizadas pelos seres humanos, pois faz a manutenção de todo material aprendido. É a persistência do aprendizado.
Segundo Izquierdo (2002),
Memória é aquisição, a formação, a conservação e a evocação de informações. A aquisição é também chamada de aprendizagem: só se 'grava' aquilo que foi aprendido. A evocação é também chamada de recordação, lembrança, recuperação. Só lembramos aquilo que gravamos, aquilo que foi aprendido (2002, p.9).
A memória passa por estágios, desde a codificação (em sub-estágios de aquisição e consolidação) na qual a pessoa recebe e transforma a entrada de informações sensoriais e físicas para reter essas informações; o armazenamento (criando e mantendo um registro) e a evocação (a lembrança, o acesso às informações) para a execução de um comportamento.
Memória e aprendizagem são as estruturas básicas para os conhecimentos, habilidades e planejamentos, pois envolvem as orientações temporais, espaciais, habilidades mentais e intelectuais, permitindo aos indivíduos se situarem no presente e planejarem o seu futuro, considerando sempre o seu passado. Não há como dissociar a memória da aprendizagem, pois para que a aprendizagem ocorra é fundamental que as informações e os conhecimentos adquiridos se consolidem na memória.
Como as memórias são processos neuronais relacionados ao hipocampo, amígdala, córtex frontal e são moduladas pelas emoções, pelo nível de consciência e pelos estados de ânimo (interesse, motivação, necessidade), podemos inferir que a integridade do processo neuronal, das principais áreas relacionadas a elas e como são moduladas é fundamental no processo de aprendizagem e da sua qualidade.
Segundo Melo (2008) a memória responsável por armazenar e adquirir conhecimento sobre o mundo, incluindo fatos, conceitos e vocabulários é chamada de memória semântica. Esse tipo de memória é requerida para armazenar o aprendizado das disciplinas escolares e estas necessitam de repetição, pois não são processadas imediatamente.
Muitos educadores ainda desconhecem como os seus alunos aprendem, ou seja, quais são os meios que eles utilizam para aprender. Desconhecem também que algumas das dificuldades que os seus alunos encontram no processo de aprendizagem podem estar associadas a problemas com a integridade da sua memória.
Assim sendo, os alunos não conseguirão atingir os objetivos esperados para a sua turma, pois a aprendizagem não ocorrerá e qualquer das estratégias utilizadas pelos professores será ineficiente gerando um desgaste emocional em todos os envolvidos no processo.
Nas salas de aula podemos encontrar crianças e adolescentes que sequer conseguem repetir uma frase que acabaram de ouvir. Os educadores concluem que isso ocorre por pura falta de atenção, mas não sabem que essa suposta "desatenção" pode ocorrer por conta de prejuízos numa das principais funções cognitivas utilizadas por nós, a memória.
Como vimos anteriormente sobre os vários tipos de atenção é improvável que alguém seja "desatento". O que podemos considerar é que a pessoa em questão, ou nosso aluno, esteja utilizando sistematicamente um tipo específico de atenção, como a involuntária ou passiva. Os professores devem estar atentos à essa questão da desatenção dos seus alunos, pois estratégias podem ser utilizadas para direcionar o foco da atenção.
Outro processo envolvido na aprendizagem é o Sistema de Recompensa (SR) que é o sistema cerebral ativado quando fazemos algo que nos dá prazer, nos mostrando que é bom repetir essa ação. Essa sensação prazerosa de satisfação, é resultado da liberação da substância neuromoduladora dopamina que é fundamental para o processo de aprendizagem.
Houzel (2010) define o sistema de recompensa como
(…) o conjunto de estruturas que sinaliza para o restante do cérebro quando alguma coisa dá certo, seja ela algo que você desejava ou algo que você estava tentando fazer e conseguiu, ou algo que aconteceu inesperadamente, mas é considerado bom, interessante pelo cérebro(2010, p.32).
A ativação do Sistema de Recompensa (SR) é muito mais que uma resposta ao que deu certo, pois por meio das experiências anteriores o nosso cérebro cria expectativas sobre o que ainda pode vir a dar certo. Essa expectativa criada por antecipação é a motivação. Quando o ensino é baseado em atividades criativas e repletas de novidades, ou que se disponibilize uma variedade de opções, formas de aprendizagem sobre um conteúdo a ser trabalhado, promove-se a motivação que leva ao aprendizado.
Para a Neurocientista, o retorno positivo que se dá ao aluno sobre o seu desempenho nas atividades escolares, o apoio oferecido para que ele perceba os seus acertos e descobertas é fundamental e pode ser o que falta à ele para perceber que acertou, e isso acaba ativando o seu SR. As pessoas se sentem motivadas quando percebem que estão no caminho certo ou escolhido e quando acerta, tomando consciência de que acertou, pois assim procurará fazer novamente aquilo que lhe deu prazer.
Como o SR é ativado quando se aprende, na sala de aula os educadores podem e devem lançar mão desse recurso, elogiando, encorajando e incentivando as atitudes corretas e o esforço dedicado dos seus alunos à resolução dos problemas postos à eles.
Baseando-se no conceito de SR os educadores passam a avaliar os seus alunos com outro olhar, não para os seus erros, mas para o que eles ainda não aprenderam, ou seja, a avaliação deixa de ser um mero instrumento classificatório e passa a ser um norteador para os próximos passos em busca do aprender.
GAZZANIGA, Michael S.; IVRY, Richard B.; MANGUN, George R. Neurociência cognitiva: a biologia da mente. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. 768 p.
HOUZEL-H. Suzana: Neurociências na Educação: Neurociência do aprendizado. ATTA.
IZQUIERDO, I. Memória. Porto Alegre: Artmed, 2002.
LENT, Roberto. Cem Bilhões de Neurônios: Conceito Fundamental da Neurociência. Rio de Janeiro: Vieira & Lent Casa Editorial, 2002.
MELO, M.O.; SAKAI H. Memória: o computador do cérebro. In LEIBIG, S. (org). O cérebro que aprende. São Paulo. Ed All Print, 2008. p. 82.
vi a matéria pela 1ª vez e gostei muito de sua abordagem. De forma simples consegui entender o que acho que muitos educadores deveriam também ter conhecimento, pois crianças e adultos não são robôs que precisam de peças de reposição, e sim, seres com capacidades e habilidade a serem estimuladas e descobertas para obterem um crescimento contínuo e sadio.
ResponderExcluirAmei o assunto abordado